sexta-feira, maio 14, 2004

FILHOS

Dedico este texto a um amigo que:

NÃO TEM FILHOS TEM UM GRANDE MÁGOA E TREME SÓ DE PENSAR NISSO.

Já viste os exemplos dos filhos dos teus amigos?
Viver com a benesse, não levam vidas descansadas, como a tua.
Muitas das vezes estão invariavelmente mergulhados numa angústia e numa ansiedade de contornos particularmente doentios.
Há cem ou duzentos anos, a vida dependia do berço, da posição social e da fortuna familiar.
Hoje não.
A criança nasce não numa família mas numa pista de atletismo com as barreiras da praxe: jardim-escola aos três, natação aos quatro, lições de piano aos cinco, escola aos seis.
E um exército de professores, explicadores, educadores e psicólogos, como se a criança fosse um potro de competição.
Eis a ideologia criminosa que se instalou definitivamente nas sociedades modernas: a vida não é para ser vivida - mas construída com sucessos pessoais e profissionais, uns atrás dos outros, em progressão geométrica para o infinito.
É preciso o emprego de sonho, a casa de sonho, o maridinho de sonho, os amigos de sonho, as férias de sonho, os restaurantes de sonho, as quecas de sonho.
Não admira que, até 2020, um terço da população mundial estará a mamar forte no Prozac.
É a velha história da cenoura e do burro: quanto mais temos, mais queremos.
Quanto mais queremos, mais desesperamos.
A superioridade gera uma insatisfação, insaciável que acabará por arrasar o mais leve traço de humanidade.
O que não deixa de ser uma lástima.
Mas a felicidade.

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